-Já disse que minha caçula não casa enquanto a
mais velha for solteira! (Batista)
Batista Minola era um cavalheiro de boa
fortuna, bela casa e vários criados. Seu grande tesouro era sua filha mais
nova, Bianca. Já Catarina, a mais velha,
era uma verdadeira megera. Naquele dia, o velho passeava com as duas filhas ao
lado Hortênsio e Grêmio, dois pretendentes de Bianca. (Narradora)
-Em vez de insistirem em Bianca, deveriam se
engraçar com Catarina. (Batista)
-Engraçar ou Desgraçar? (Grêmio)
-Deus me livre de um diabo desses! (Hortênsio)
-Fiquem sossegados, de vocês, quero distância!
(Catarina)
-Chega! Para provar que não minto, vou pedir a
Bianca que vá imediatamente para casa. (Batista)
Bianca sai de cena.
-Para que tanto rigor? (Hortênsio)
-Não adianta insistir. Bianca adora música e
poesia, vou contratar professores para ela, conhecem algum? (Todos quietos). E
você Catarina, espere por aqui.
(Batista)
-Ah, tenho mais o que fazer! (Catarina)
Catarina sai de cena. Batista vai atrás.
-Se eu encontrar um professor vou apresentá
-lo pessoalmente para Batista. (Grêmio)
-Antes temos que achar um marido para
Catarina. Agora somos cúmplices, depois de seu casamento voltamos a ser rivais.
(Hortênsio)
Os dois saem de cena.
...
Hortênsio e Grêmio só não sabiam que Lucêncio
e seu criado Trânio assistiam áquela cena. Lucêncio chegou a Pádua com a
intenção de estudar na Universidade. Seu pai era Vicente, um rico mercador de
Pisa que estava bancando sua viagem. (Narradora)
Trânio e Lucêncio saem detrás do banco.
-Trânio, vou lhe fazer uma confissão: Nunca
pensei que o amor fosse tão forte, eu preciso conquistar aquela moça! (Lucêncio)
-Quem sou eu para censurar este sentimento?
Mas o senhor não percebeu o mais importante. Se a ama realmente, precisa de um
plano para aproximar-se. Enquanto a bruxa de sua irmã não casa, ela ficará
trancada. (Trânio)
-Mas você viu que o pai dela procura um
professor? (Lucêncio)
-Sim, e estou bolando um plano! O senhor se
passa por professor... (Trânio)
-Isso! Acha que daria certo? (Lucêncio)
-É Difícil. Se você for um professor, quem
será Lucêncio? (Trânio)
-Tire depressa sua roupa, Trânio! E coloque a
minha, quando os criados chegarem você será Lucêncio. Aliás, precisamos nos
cuidar com Biondello, ele é atrapalhado demais, pode dar com a língua nos
dentes. (Lucêncio)
Biondello entra.
-O que aconteceu? Trânio roubou sua roupa
senhor? (Biondello)
-Nada disso! Não tenho tempo para me explicar,
a partir de agora, ele será Lucêncio! (Lucêncio)
-Sorte a dele! (Biondello)
-Precisamos fazer isso para que ele se case
com Bianca, a caçula de Batista. (Trânio)
-Trânio, se apresente ao velho como mais um
pretendente de Bianca! (Lucêncio)
-Mas... (Trânio)
Lucêncio sai de cena.
...
-Acho que esta é a casa dele. Bata logo!
(Petrúquio)
-Bater em quem, patrão? (Grúmio)
-Na porta, com toda força! (Petrúquio)
-Bater o senhor na porta? (Grúmio)
-Ah, desisto! Bato eu mesmo! (Petrúquio)
Petrúquio empurra o Grúmio e ele cai no chão.
-Socorro, o patrão enlouqueceu! (Grúmio)
-O que está acontecendo aqui? Petrúquio, meu
grande amigo! E Grúmio, o que faz no chão? (Hortênsio)
-Senhor Hortênsio, acredita que meu patrão
pediu que desse uma surra nele? (Grúmio)
-Imbecil! Eu mandei ele bater à sua porta!
Suma daqui ou fique mudo! (Petrúquio)
-Mas me diga, o que te traz aqui? (Hortênsio)
-Meu pai acabou de morrer, então resolvi
viajar sem destino, em busca de uma boa fortuna. (Petrúquio)
-Então está no lugar certo! Que tal uma moça
grosseira, porém muito rica? O que estou dizendo? Não desejo isso nem a um
inimigo! (Hortênsio)
-Uma mulher bem rica é exatamente o que eu
procuro. (Petrúquio)
-Bom, eu só estava brincando. Mas se quer
isto...Ela é bela e criada com muito luxo, seu único defeito é ser
insuportável! (Hortênsio)
- Me diga o nome do pai dela. Eu vou domar
essa megera! (Petrúquio)
- O pai dela é Batista Minola e ela é
Catarina. (Hortênsio)
- O velho Batista eu conheço, mas não vou
dormir enquanto não me apresentarem Catarina! (Petrúquio)
-Então vamos logo enquanto o patrão está empolgado!
(Grúmio)
- Eu vou com vocês. Naquela casa fica Bianca,
a filha mais nova. Nenhum pretendente chega perto dela enquanto Catarina não se
casa.
E preciso de um favor, você me apresentará ao
velho como professor de música, assim terei tempo para cortejá-la. (Hortênsio)
Todos saem. Grêmio e Lucêncio entram.
-Você só vai ler livros de amor, combinado? Se
fizer tudo certinho, pago em dobro o que o pai dela pagar. (Grêmio)
Hortênsio, Grúmio e Petrúquio chegam.
-Olá, Grêmio! (Hortênsio)
-Olá, Hortênsio! Estou indo à casa do
Bastista. Encontrei esse professor para Bianca, ele sabe tudo sobre poesia!
(Grêmio)
-Que coincidência, encontrei um professor de
música para ela. Esse é meu amigo, Petrúquio. Ele está disposto a se casar com
Catarina, se a oferta for boa. (Hortênsio)
-Você sabe de todos os defeitos dela? (Grêmio)
-Sim, não há problema algum. Não tenho medo de
moça nervosinha. (Petrúquio)
-Prometi que vamos bancar todas suas despesas
enquanto estiver por aqui. (Hortênsio)
Tranio e Biondello entram.
- Bom-dia! Podem me informar o melhor caminho
para a casa do senhor Minola? (Trânio)
-Está à procura de qual filha? (Grúmio)
-Isso é comigo.(Trânio)
-Espero que não seja a brigona. (Petrúquio)
-Não gosto de mulher brava. (Trânio)
-Quais são suas intenções com Bianca? (Grêmio)
-Não é da sua conta. (Trânio)
-Não mesmo, contanto que vá embora. (Grêmio)
-E você é dono da rua? (Trânio)
-Sou o dono do coração de Bianca. (Grêmio)
-Eu sou o dono! (Hortênsio)
-Acalmem-se! Por que ela não pode ter mais um
pretendente? Eu não desisto de Bianca, ou não me chamo Lucêncio. (Trânio)
-Escutem, a moça que vocês querem cortejar,
não pode falar com seus pretendentes enquanto a mais velha não desencalha.
(Petrúquio)
-Verdade, seremos todos gratos se você domar a
fera. (Trânio)
-Você pode contribuir na oferta que daremos.
(Hortênsio)
-Claro! E para provar isto, convido todos a
passar uma tarde juntos. Bebendo à saúde de Bianca. (Trânio)
Todos aprovam a ideia e saem.
...
-Por favor irmã, não percebe que me tratar
como empregada, ou melhor, como escrava, é tão humilhante pra você quanto pra
mim? (Bianca)
-Me diga qual deles é seu escolhido.
(Catarina)
-Nenhum homem nunca me agradou. (Bianca)
-Deixa de mentira, pirralha! Sei que é o
Hortênsio, ou você prefere os ricos, como o Grêmio? (Catarina)
-É dele que você tem ciúmes, ou só está
brincando comigo? (Bianca)
Catarina dá um tapa em Bianca.
-Isso parece brincadeira? (Catarina)
Batista entra.
-Bianca! Ah, Catarina, pra que tanto ódio? Sua
irmã nunca abriu a boca para falar de você! (Batista)
-É esse silêncio que me incomoda! (Catarina)
-Bianca, vá para seu quarto, por favor.
(Batista)
Bianca sai de cena.
-Agora está tudo muito claro, você só pensa no
casamento de sua queridinha! Não quero mais conversa, vou pro meu quarto.
(Catarina)
Catarina sai de cena e Batista senta.
-Ah, meu Deus, existe pai mais maltratado que
eu? (Batista)
Criado bate na porta e Batista manda entrar.
Criado abre a porta e todos homens entram.
- Bom-dia a todos. (Batista)
-O senhor é o pai de Catarina? (Petrúquio)
-Sim, sou eu. (Batista)
-Eu ouvi rasgados elogios sobre ela, então
tomei a liberdade de vir para conferir com os próprios olhos. Para provar
minhas boa intenções, trouxe um ótimo professor de música, chama-se Lício.
(Petrúquio)
-Sejam muito bem-vindos. Quanto a Catarina,
acho que ela não é o que pensa. (Batista)
-Vejo que o senhor não deseja perdê-la.
(Petrúquio)
-Claro que não! Me limitei a dizer apenas a
verdade. (Batista)
-Muito bem, esse jovem professor se chama
Câmbio. Ficará feliz em aceitar seus serviços. (Grêmio)
-Seja bem-vindo, Câmbio. E este cavalheiro,
quem é? (Batista)
-Sou Lucêncio, filho de Vicente, de Pisa. Vim
até aqui e ouso entrar na lista de pretendentes de Bianca. (Trânio)
-Seja bem-vindo. Os professores já podem
começar as aulas e senhores, convido- os para ir ao Jardim. (Batista)
Todos saem de cena. Entram no jardim Trânio,
Grêmio, Petrúquio e Batista.
-Senhor Batista, desculpe- me pela pressa, mas
gostaria de saber: Se eu conquistar o coração de Catarina, que oferta recebo
pelo casamento? (Petrúquio)
-Consiga antes o principal, que é o amor de
minha filha. (Batista)
- Isso é o de menos, pai. Pelo que o professor
me contou, sua filha é muito divertida. Gostaria de vê-la agora mesmo.
(Petrúquio)
-Quer entrar com Bianca? Ou prefere que chamem
Catarina? (Batista)
- Eu a espero aqui, senhor. (Petrúquio)
Todos saem. Petrúquio fala baixo consigo mesmo
e Catarina entra.
...
-Bom- dia, Cáti. Ouvi dizer que a chamam
assim. (Petrúquio)
-Então está ouvindo tão bem quanto um surdo.
(Catarina)
-Ouvi muitos cantarem a sua graça e sua
beleza, mas nada comparado ao que vejo. Estou comovido. (Petrúquio)
-Comovido? Deveria era ser removido da minha
frente. Aliás, você tem cara de quem é facilmente movido e removido. (Catarina)
-Como assim? (Petrúquio)
-Feito um móvel. Um tamborete. (Catarina)
-Tem toda razão, sou um tamborete. Então venha
se sentar no meu colo. (Petrúquio)
Catarina da um tapa em sua cara.
-Se fizer isso de novo, leva um murro.
(Petrúquio)
-Ora, veja só o seu dilema: se você é mesmo um
cavalheiro, não vai apelar para suas armas. E se não mostrar elas, como provar
que é mesmo um cavalheiro? (Catarina)
-Ah, Cáti. Para que ser tão amarga? Você não
me escapa fácil. (Petrúquio)
-Se eu ficar aqui, será só para encher sua
paciência. (Catarina)
-Para você minha paciência é infinita. Desfile
para mim, linda Cáti. (Petrúquio)
-Vá dar ordem pros seus criados, rapaz! (Catarina)
-Chega, vamos deixar a brincadeira de lado.
Seu pai já aprovou o casamento e o dote está acertado. Pode espernear se
quiser. Eu sou o único capaz de domá-la. (Petrúquio)
Batista, Grêmio e Trânio entram.
-Não dê uma de rebelde, já decidi que será
minha esposa. (Petrúquio)
...
-Algum progresso com ela? (Batista)
-Claro!
(Petrúquio)
-Então por que esta cara, filha? (Batista)
-Ainda tem coragem de me chamar de filha? Que
pai é esse que me arranja um casamento com um maluco? (Catarina)
-Não se preocupe, papai. Ela se faz de
esquentada, mas no fundo é um doce só! Podemos marcar o casamento para domingo
que vem. (Petrúquio)
- Se eu não te enforcar antes disso.
(Catarina)
Os homens arregalar os olhos.
- Cáti, como você é engraçada. Agora preciso
ir para Veneza comprar roupas pro casamento. Papai, pode fazer os preparativos.
(Petrúquio)
-Nem sei o que digo, que o casamento de vocês
seja iluminado! (Batista)
- Pai, esposa e cavalheiros, domingo volto com
as alianças. (Petrúquio)
Catarina sai pra um lado e Petrúquio para
outro.
-Caro Batista, agora que este casamento está
acertado. Que tal falarmos sobre sua caçula? (Grêmio)
-Rapazes, sejamos racionais: Quem oferece
maior dote? (Batista)
- Para começar, ofereço minha casa e casa de
campo. E também meus cofres de marfim repletos de moedas. (Grêmio)
-Eu ofereço quatro casas em Pisa. Além de
minhas terras, que rendem dois mil ducados por ano. (Trânio)
-Que exagero, minhas terras não chegam perto
disso. Pois então eu incluo meu navio, e agora rival, o que vai fazer? (Grêmio)
-Talvez você não saiba, mas meu pai tem seis
navios, e mais barcos menores, e sou herdeiro de tudo isso. O que vier, ofereço
em dobro. (Trânio)
-Já chega, ofereci tudo o que posso. (Grêmio)
-Senhor Batista, sua filha não receberá oferta
melhor. (Trânio)
-Se seu pai assegurar o dote, Bianca será sua.
Mas e se você morrer antes dele? (Grêmio)
-Mas meu pai é muito velho, e eu sou muito
jovem. (Trânio)
-Já vi filhos morrerem antes dos pais.
(Grêmio)
-Muito bem, amigos. Domingo que vem Catarina
se casa, no outro, é a vez de Bianca. Se o pai de Lucêncio confirmar o dote,
ele será o noivo. Caso contrário, o noivo será o Grêmio. (Batista)
Batista sai de um lado e Grêmio de outro.
-Esse velhote não sabe nada, se já inventei um
falso Lucêncio, por que não inventar um falso Vicente? (Trânio)
...
-Quando a moça tiver estudado uma hora de
música, terá igual período pra suas leituras! (Hortênsio)
-Seu asno, a música serve para relaxar as
pessoas depois dos estudos! Primeiro filosofia, depois a harmonia. (Lucêncio)
-Calma, senhores. Não sou nenhum garotinha da
escola cheia de horários. Faremos o seguinte: Enquanto lemos os livros, você
afina o instrumento. (Bianca)
-Eu volto quando ele estiver afinado.
(Hortênsio)
-Vou traduzir este trecho do livro: Meu nome é Lucêncio, filho de Vicente, de
Pisa. Me disfarcei para conquistar seu amor e quem está se passando por mim é
meu criado Trânio, que tomou meu nome pra enganar meus rivais. (Lucêncio)
-Vamos ver se aprendi a traduzir: Não conheço
o senhor e não confio no que diz. E não fique muito empolgado, mas também não
desista. (Bianca)
Hortênsio entra e senta em um banco.
-Que sujeito arrogante, está cortejando
Bianca! (Hortênsio)
-Com o tempo talvez eu venha a confiar, mas
por enquanto não. (Bianca)
Lucêncio percebe que são vigiados.
-Entendeu toda a lição? (Lucêncio)
-Tenho algumas dúvidas, mas vamos parar por aqui. Chegou sua vez,
Lício. (Bianca)
Hortênsio vai até Bianca.
-Não tenho música para três vozes. (Hortênsio)
Lucêncio senta.
-Vou te apresentar uma escala diferente. Se
chama: Escala do Hortênsio. Leia. (Hortênsio)
-Aqui se encontra a essência/ do amor que lhe
devota/ o apaixonado Hortênsio/ Bianca tenha dó/ para que estas duas notas/
possam virar uma só.
O senhor chama isso de escala? Prefiro seguir a tradição. (Bianca)
Criado entra.
-Trago ordens do senhor Batista: a senhorita
deve interromper o que faz e ajudar nos preparativos do casamento de sua irmã.
(Criada)
-Depois continuamos. (Bianca)
Bianca e Criado saem de um lado e Hortênsio e
Lucêncio de outro.
...
-Onde Petrúquio está? Minha família terá
vergonha de sair de casa! (Batista)
-A vergonha é toda minha! Fui forçada a
aceitar o casamento, e agora este malandro parece não ter pressa nenhuma para
casar! Enquanto isso, eu viro piada da cidade: "Olha a noiva de Petrúquio,
vai casar no dia de São Nunca". (Catarina)
-Muita calma, se ele não chegou na hora
marcada, algo grave deve ter o impedido. (Grêmio)
-Quem me dera nunca ter encontrado esse
pilantra! (Catarina)
Catarina sai de cena. Biondello entra.
-Senhor Batista, Petrúquio chegou. (Biondello)
-E como está?
(Batista)
-Bem, acho que não está com vestes
adequadas... (Biondello)
-Ele vem sozinho? (Batista)
-Não, ele trouxe um criado. (Biondello)
Petrúquio e Grúmio entram em cena.
-Tudo pronto para o casório? (Petrúquio)
Todos olham com cara de espanto.
- Por que estão me olhando com estas caras?
Viram uma assombração? (Petrúquio)
-Ora, você sabe que é o dia do casamento,
passamos horas preocupados com sua demora. Vamos logo, tire essa roupa e não
envergonhe minha família. (Batista)
-O que importa é que aqui estou, pronto para
cumprir minha palavra. (Petrúquio)
-Espere, você não está pensando em se casar
com estes trajes, não é? (Batista)
-Mas ela vai se casar comigo ou com minhas
roupas? Vamos! (Petrúquio)
Todos saem menos Lucêncio e Trânio.
-Senhor, precisamos achar um sujeito para se
passar por Vicente. Ele vem até aqui e confirma o dote que prometi, tenho
certeza que Batista aprovará o casamento. (Trânio)
Os dois saem. Entra a cena do casamento.
-O senho aceita Catarina como sua esposa?
(Padre)
-Aceito, pelas chagas do demônio! (Petrúquio)
O padre derruba a Bíblia e abaixa-se para
pegá-lá.
-Quem tiver coragem que o levante! Um brinde
ao nosso casamento! (Petrúquio)
Todos se afastam.
-Muito obrigada pela presença, amigos! Mas o
dever me chama pra longe! (Petrúquio)
-Vocês vão embora ainda hoje? (Batista)
-Hoje não, agora! (Petrúquio)
-Faça a delicadeza de partir depois da ceia.
(Trânio)
-Não tem jeito. (Petrúquio)
-E se eu pedir? (Catarina)
-Não. (Petrúquio)
-É assim? Então não me peça para ir junto!
(Catarina)
-Nem pense em se opor ao que eu digo,
mulher! E o mesmo Vale para todos
vocês! (Petrúquio)
Petrúquio vai embora puxando a noiva pelo
braço.
...
-Ô de casa! (Grúmio)
-Quem chamou com a voz tão fria? (Curtis)
-Foi uma pedra de gelo! Preciso de fogo, meu
bom Curtis. (Grúmio)
-O patrão vem vindo com a esposa? (Curtis)
-Sim, e cadê o fogo? E me diga: O jantar está
na mesa e a casa arrumada? (Grúmio)
-Tudo feito. E o que você conta de novidade?
(Curtis)
-O cavalo da patroa caiu, e ela afundou até o
pescoço. O patrão largou a esposa no chão e começou a me espancar. A patroa
veio e tirou o marido de cima de mim, e enquanto eu gritava de dor, a rédea
arrebentou e o cavalo escapuliu. (Grúmio)
-Pelo jeito o patrão é mais brigão que ela.
(Curtis)
-Nem me fale! Agora vá chamar Nataniel, José,
Nicolau, Filipe, Walter e o Rapadura. Eles precisam se apresentar bem penteados
e engomados para os noivos. (Grúmio)
Criados entram.
-O patrão está por perto? (Nataniel)
-Mais do que vocês imaginam. (Grúmio)
Petrúquio e Catarina entram.
-Onde está o paspalho que mandei na frente pra
arrumar tudo? (Petrúquio)
-Aqui, senhor. (Grúmio)
-Ande logo, junto com estes safados! Me sirvam
os jantar. (Petrúquio)
O jantar é servido.
-Onde está o animal do cozinheiro? Vocês
imaginaram que eu gostaria desta porcaria? Levem tudo embora! Cáti, vamos ter
que jejuar hoje a noite. Compensamos amanhã no café, vamos para o quarto.
(Petrúquio)
Catarina e Petrúquio saem.
-O que deu no patrão? (Nataniel)
-Ele está fazendo a moça provar do próprio
veneno. (Curtis)
Todos saem, Petrúquio entra em cena.
-Ela está faminta, coitada, mas só mato sua
fome quando ficar bem mansinha. E assim se aprende a obedecer o dono. Ela não
comerá nada e nem dormirá. Assim como reclamei da comida, vou inventar mil
defeitos na cama. (Petrúquio)
...
-Tem certeza de que ela se apaixonou por
outro? (Trânio)
-Sim, meu amigo Lucêncio. Vamos ver.
(Hortênsio)
Bianca e Lucêncio estão sentados.
- O que está lendo, Mestre? (Bianca)
-Eu só leio o que ensino: A arte do amor.
(Lucêncio)
-Viu só?
(Hortênsio)
-Como o amor é cruel! (Trânio)
-Chega de mentiras! Não me chamo Lício, sou
Hortênsio, me disfarcei para conquistar o amor de Bianca. Mas ela não retribui.
(Hortênsio)
-Proponho um pacto: Vamos desistir de nosso
amor por Bianca. (Trânio)
-Aceito sua proposta! E acabo de decidir que
vou me casar com uma viúva rica que sempre me amou. (Hortênsio)
Hortênsio sai de cena e Tranio se aproxima.
-Senhorita Bianca, eu e Hortênsio acabamos de
fazer um pacto, renunciando seu amor. (Trânio)
-Pelo menos desse ai já estamos livres.
(Bianca)
-E ele se casará com uma viúva rica. (Trânio)
-Que Deus o proteja! (Bianca)
Biondello entra.
-Patrão, encontrei um velhinho de ar angelical
com cara de professor. Aposto que ficará feliz em se passar por Vicente.
(Biondello)
O professor chega.
-Seja bem-vindo. De onde o senhor vem?
(Trânio)
-Olá! Eu venho de Mântua. (Pedagogo)
-Mântua?
O senhor deve ser muito corajoso. (Trânio)
-Como assim, senhor? (Pedagogo)
-O senhor não viu os avisos? Todo o cidadão de
Mântua que entrar em Pádua está jurado a morte. (Trânio)
-Estou perdido senhor, preciso ficar aqui
alguns dias. (Pedagogo)
-Deixe comigo, senhor. Você conhece um certo
Vicente, de Pádua? (Trânio)
-Não conheço, senhor. (Pedagogo)
-Ele é meu pai, o senhor pode se passar por
ele e ficar hospedado em minha casa. (Trânio)
-Muito obrigado, senhor. Por salvar minha
vida! (Pedagogo)
-E desde já, fique ciente. O meu pai foi
solicitado na cidade para confirmar meu dote de casamento com a filha de
Batista Minola. Mas depois explico isso. (Trânio)
Todos saem.
...
-Eu não entendo! Será que ele casou comigo só
pra me matar de fome? Grúmio, traga algo para comer. (Catarina)
-Um bife com mostarda. (Grúmio)
-Meu prato predileto. (Catarina)
-Mas mostarda é picante. (Grúmio)
-Traga só o Bife. (Catarina)
-Só o Bife não. (Grúmio)
-Então traga os dois, ou só um. (Catarina)
-Pronto, vou trazer só a mostarda. (Grúmio)
Catarina dá um tapa na cara dele.
-Suma daqui, escravo maldito! (Catarina)
Grúmio sai, Petrúquio entra.
-Como vai, Cáti? (Petrúquio)
-Como vai, senhora? (Hortênsio)
-Mais fria é impossível. (Catarina)
-Anime-se, querida. Estamos de saída para casa
de seu pai, até chamei um costureiro para deixá-la mais bonita. (Petrúquio)
O costureiro entra.
-Bem-vindo, o que traz para minha esposa?
(Petrúquio)
-Este belo chapéu que encomendou. (Costureiro)
-Isso é um chapéu ou uma panela de veludo?
Leve embora! (Petrúquio)
-Não, por favor. É perfeito. (Catarina)
-Cáti, um chapéu desse é de matar qualquer um
de raiva. (Petrúquio)
-É esse que eu quero! (Catarina)
-Fala do vestido? Mas olha que coisa
horrorosa! (Petrúquio)
-Senhor, fiz do jeito que você mandou.
(Costureiro)
-A questão é que pra mim não presta.
(Petrúquio)
-Um vestido folgado... (Costureiro)
-Folgado? Folgado é o senhor. (Grúmio)
-Com decote arredondado. (Costureiro)
-Isso eu confesso que pedi. (Petrúquio)
-A manga larga. (Costureiro)
-Mentira, eu pedi duas mangas! Suma daqui! Não
ponha mais os pés nesta casa. (Petrúquio)
Petrúquio dirige-se a Hortênsio.
-O costureiro é por sua conta. (Petrúquio)
Hortênsio vai atrás do costureiro.
-Fique tranquilo, rapaz. O seu trabalho será
pago. (Hortênsio)
O costureiro sai de cena e Hortênsio volta do
lado de Petrúquio.
-Agora vamos para casa de seu pai, Cáti. Não
importa que nossas roupas são simples. Chame os criados, precisamos chegar para
o almoço. (Petrúquio)
-Marido, informo que são duas da tarde. Nem
para o jantar pegaremos. (Catarina)
-Você tem que me contrariar em tudo? Hoje não
tem mais viagem. Só saio daqui as sete horas da manhã. (Petrúquio)
Todos saem.
...
-Essa é a casa de Batista, a partir de agora,
o senhor é meu pai. (Trânio)
-Só estou com medo que Batista me reconheça,
há 20 anos nos hospedamos na mesma estalagem. (Pedagogo)
-Ele não vai lembrar de nada. (Trânio)
Batista vai até eles.
-Bom-dia, senhores. (Batista)
-Bom-dia, Batista. Este é meu pai, Vicente.
Papai, peço que seja generoso e confirme o dote do casamento. (Trânio)
-Fique tranquilo, meu filho. Senhor Batista,
podemos tratar do dote agora mesmo. (Pedagogo)
-Gostei do seu jeito objetivo, e parece que
nossos filhos se apaixonaram mesmo. Se for este o dote, aprovo o casamento.
(Batista)
-Onde assinaremos os papéis? (Pedagogo)
-Sugiro que seja na casa onde estou hospedado.
É um lugar discreto e seguro. Peço a Biondello que avise Bianca e chame um
escrivão. (Trânio)
-Está bem. (Batista )
Todos saem. Biondello e Lucêncio entram em
cena.
-Patrão, está tudo acertado. Enquanto os pais
assinam o falso contrato vocês se casam de verdade. (Biondello)
-Ótimo, mas será que Bianca aceitará? Não
posso ser bobo, é claro que aceitará, ela me ama e vai adorar a ideia.
(Lucêncio)
...
-Depressa mulher! Não quer chegar logo?
(Petrúquio)
Entra Vicente.
-Bom-dia, formosa dama! Cáti, você já viu uma
donzela tão radiante? (Petrúquio)
-Ó, diga-nos aonde vai com tanta beleza?
(Catarina)
-Ficou maluca, Cáti? Não está vendo que é um velhote? (Petrúquio)
-Mil desculpas, velhote! Minha visão foi
ofuscada pela luz do Sol! (Catarina)
-É um prazer conhecer um casal tão belo e
divertido! Sou Vicente, de Pisa, estou indo a Pádua, visitar meu filho
Lucêncio. (Vicente)
-Mas que feliz coincidência, acho que posso
chamá-lo de papai. A irmã da minha esposa acaba de se casar com seu filho!
(Petrúquio)
-Meu filho se casou? (Vicente)
-Não se assuste, Bianca é uma moça admirável.
Digamos juntos até Pádua, seu filho terá uma bela surpresa. (Petrúquio)
-Será que posso acreditar nessa história?
(Vicente)
- Posso garantir que é verdade, se vier
conosco, irá conferir com os próprios olhos. (Petrúquio)
Todos saem.
...
-Agora temos que nos despedir, porque o pai de
Catarina nos espera. (Petrúquio)
-Faço questão que bebam algo comigo. E pelo
barulho, parece ter festa lá dentro.
(Vicente)
-Estão ocupados, é melhor bater com força.
(Grêmio)
Vicente bate com força.
-Querem derrubar a porta? Quem são vocês?
(Pedagogo)
- Estamos procurando Lucêncio. (Vicente)
-Ele não pode atender ninguém agora.
(Pedagogo)
-Avise a ele que seu pai acabou de chega de
Pisa. (Vicente)
-Mentira, o pai dele chegou faz tempo. Estão
olhando para ele. (Pedagogo)
-Que safadeza é essa velhote? Onde já se viu
roubar o nome de alguém? (Petrúquio)
-Prendam esse farsante! (Pedagogo)
Biondello entra.
-Venha aqui! (Vicente)
-Eu vou onde quiser! (Biondello)
-Ande logo, já se esqueceu de mim? (Vicente)
-Nunca te vi na vida. (Biondello)
-Vai dizer que nunca viu o pai de seu patrão?
(Vicente)
-Claro que sim, olhe ele aqui. (Biondello)
-Então é assim? (Vicente)
Trânio e Batista saem na porta.
-Quem você pensa que é? (Trânio)
-Quem eu penso que sou? Quem você pensa que é,
canal na disfarçado de nobre? (Vicente)
-O que o senhor tem a ver com minhas sedas e
pérolas? Agradeço a meu pai que me garante esse nível de vida. (Trânio)
-Seu pai, Trânio? (Vicente)
-Meu senhor, isso é um engano. Este rapaz não
chama Trânio. (Batista)
-Este é Lucêncio. Meu único herdeiro.
(Pedagogo)
-Trânio, onde está meu filho? (Vicente)
-Se disser mais algo, mando te prender.
(Batista)
-Esperem, ninguém vai prender este homem.
(Grêmio)
-Não se meta, Grêmio. (Batista)
-Cuidado, senhor Batista. Me atrevo a dizer
que este é o verdadeiro Vicente. (Grêmio)
-Só falta dizer que não sou Lucêncio. (Trânio)
-Sei que você é Lucêncio, mas seu
pai...(Grêmio)
Lucêncio e Bianca chegam. Biondello corre até
eles.
-Patrão, finja que não conhece seu pai. Senão
estamos fritos! (Biondello)
Lucêncio se ajoelha aos pés do pai, Trânio,
Biondello e o pedagogo fogem.
-Perdão papai. (Lucêncio)
Bianca se ajoelha.
-Também peço perdão, meu pai. (Bianca)
-O que está acontecendo, filha? Por que seu
noivo fugiu? (Batista)
-Eu sou o verdadeiro Lucencio, senhor. Acabei
de me casar com sua filha na igreja enquanto o senhor participava de uma grande
farsa. (Lucêncio)
-E quem era aquele? (Batista)
-O amor por Bianca me fez troca de identidade
com Trânio, aquele homem. Peço que o senhor me desculpe e que meu pai desculpe
Trânio. (Lucêncio)
-Então o senhor se casou com minha filha sem
pedir minha autorização? (Batista)
-Não se preocupe senhor, esse casamento vai
deixá-lo muito satisfeito. (Vicente)
-Não se preocupe, garanto que ele irá aprovar
o casamento. (Lucêncio)
Todos saem.
...
-Até que enfim estamos todos cantando no mesmo
tom. Chega de guerras, é hora de rir das intrigas e perigos que enfrentamos.
(Lucêncio)
Trânio, Biondello e Grúmio servem o jantar.
-Não se faz outra coisa nesta família, é comer
e comer. (Petrúquio)
-São as delícias de viver em Pádua. Tudo é
doce nesta cidade. (Batista)
-Deus te ouça. (Hortênsio)
-Por acaso está com medo da viúva? (Petrúquio)
-E eu sou de meter medo em alguém? (Viúva)
-Eu quis dizer que Hortênsio teme pela
senhora... (Petrúquio)
-Todo tonto pensa que o mundo é que balança.
(Viúva)
-O que a senhora quis dizer com este
pensamento? (Catarina)
-Quem se casa com uma megera, pensa que todas
mulheres são iguais. Deu pra entender agora? (Viúva)
-Ora, sua desclassificada! Vou desenhar um
roxo no seu olho! (Catarina)
-Dá-lhe, Cáti! (Petrúquio)
-Força, viuvinha! (Hortênsio)
-Como você os aguenta? (Batista)
-Ah, eles não tem nada na cabeça. (Grêmio)
-Então estão precisando de uns chifres.
(Bianca)
-A briga despertou a bela noiva? (Vicente)
-Mas vou parando por aqui. (Bianca)
-Se entrou na briga, tem que levar umas
flechadas! (Petrúquio)
-Está me chamando de passarinho? Então vou
passear pelo bosque. Quem for bom de mira, me siga. (Bianca)
Todas mulheres saem.
-Proponho uma aposta. Cada um de nós chama uma
esposa, ganha a mais obediente. (Petrúquio)
-Ah, eu aposto vinte coroas! (Lucêncio)
-Vinte coroas? Eu aposto cem! (Petrúquio)
-Fechado. Corra Biondello, diga a Bianca que a
estou chamando. (Lucêncio)
Biondello sai.
-Eu aposto na Bianca. (Batista)
Biondello volta.
-Bianca mandou dizer que está ocupada.
(Biondello)
-Isso é resposta que se dê a marido? (Petrúquio)
-Minha vez, diga a Viúva que venha aqui.
(Hortênsio)
Biondello sai. Biondello entra.
-Ela disse que o senhor deve estar de
brincadeira. Se quiser falar com ela, que vá procurá-la. (Biondello)
-Que vexame! Grúmio, mande sua patroa vir aqui
imediatamente. (Petrúquio)
Catarina entra com Grúmio.
-Pois não, marido? (Catarina)
-Onde estão sua irmã e a viúva? (Petrúquio)
-Conversando lá fora. (Catarina)
-Traga elas aqui, nem que seja na pancada.
(Petrúquio)
-Parece que você se casou com uma nova
Catarina. (Batista)
-Isso não é nada, verão quando ela voltar.
(Petrúquio)
Todas entram.
-Eu nunca aceitaria uma humilhação dessa.
(Viúva)
-Que vergonha, Catarina! Que obediência cega!
(Bianca)
-Quem dera você fosse tão cega, sua visão
acabou de me custar cem coroas. (Lucêncio)
-Mais cego é você, que apostou na minha
obediência. (Bianca)
-Catarina, você fica encarregada de ensinar a
essas duas teimosos sua verdadeiras funções como esposas. (Petrúquio)
-Se nascemos com um corpo assim, tão delicado,
Incapaz de suportar trabalho pesado,
Então me digam, senhoras, porque motivos
Devemos ter o espírito combativo?
Esqueçam isso, seus insetos impotentes!
Sei o que digo, pois até recentemente
eu também tinha um coração insaciável,
Que cada desaforo ficava mais bravo.
Agora sei que a teimosia sempre falha,
Pois nossas bravas lanças são feitas de palha.
Todo orgulho, senhoras, é tempo perdido,
Portanto ponham as mãos aos pés do marido.
O meu esposo sabe que, quando quiser,
Terá no chão, humildes as mãos de mulher.
(Catarina)
-Isso sim é que é mulher! (Petrúquio)
-Parabéns para ele, conseguiu domar a megera.
(Hortênsio)
-Impressionante!
Com essa ele vai fazer história! (Lucêncio)
e legal
ResponderExcluirvai tomar no cu
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